segunda-feira, 9 de junho de 2014

Aposentadoria: uma percepção positiva

* Artigo do professor Francisco Cardoso Gomes de Matos


Existem diferentes concepções de aposentadoria e a quase  sinonímia usada em nossa cultura revela como as pessoas tendem a perceber essa fase da vida adulta. Assim há quem se refira à inatividade e aos inativos: também há quem use o termo terceira idade, para designar as pessoas aposentadas ou prestes a deixarem de exercer a atividade pela qual recebiam remuneração ou ganhavam seu próprio sustento, como profissionais autônimos, etc.

Além das designações primeira idade (infância), segunda idade (juventude) e terceira idade, dicionários atuais já registram a locução quarta idade, para designar as pessoas que se encontram aposentadas e já ultrapassaram os 75 anos. Veja-se, a propósito, os verbetes terceira idade e quarta idade no Dicionário de novos termos de ciências e tecnologias, de F. Vidossich e O. Furlan, publicado pela Pioneira, São Paulo, 1995.

O conceito de aposentadoria precisa ser revisto, aprofundado, humanizado, daí o objetivo principal desse ensaio: ajudar os leitores interessados a construir uma percepção de aposentar-se à luz da pedagogia da positividade. Recentemente recebi um bilhete de uma amiga, prematuramente aposentada por invalidez, com esta mensagem: “Atualmente estou sentido necessidade de me sentir produtiva. Afinal, aposentadoria não pode significar a morte....”

Esclareço que essa ativíssima pessoa tinha sido secretária executiva e, agora continua a prestar relevantes serviços – com auxílio de modernos recursos computacionais – a pessoas e instituições de sua comunidade, além de desempenhar seu papel de colaboradora em sua paróquia. Em suma, um exemplo verdadeiramente cristão de fé, amor ao próximo e de aposentadoria altamente construtiva.

Como seria bom se todos os aposentados pudessem continuar a servir, a contribuir para o bem de seus familiares e amigos, em suma concretizando que o aposentar-se bem significa aposentar-se para o bem. Iniciativas como o funcionamento de universidades de terceira idade (a Universidade Federal de Pernambuco, acrescentou essa dimensão humanizadora a seus programas de Ensino-aprendizagem, pesquisa e extensão) são importantes, mas precisamos ir além, conclamando o maior número de pessoas e entidades (do mundo comercial, empresarial, etc.) para que compartilhem dessa missão comunitária.

Cabe à mídia impresa, radiofônica, televisiva, eletrônica um papel principal na formação de atitudes positivas do público em geral sobre o que, em Direito Humanos, chamaríamos de direitos das pessoas aposentadas, que direitos deveriam ser assegurados aos que deixaram de trabalhar, além dos benefícios conferidos pela legislação trabalhista em vigor?

Criar-se condições para assegurar-se aos aposentados o Direito de uma educação continuada certamente constituiria um objetivo a ser concretizado comunitariamente. Outras ideias a respeito dos direitos de aposentados podem ser discutidas e postas em prática, de micro a macro contextos, por exemplo, nas paróquias, nos hospitais, nos clubes de serviço, nas associações profissionais, nas entidades públicas e privadas, etc. Que todos nós, jovens ou adultos, somemos esforços em favor dos que por serem categorizados como aposentados, não tem sido tratados com a dignidade e o respeito que muito bem merecem.

Francisco Gomes de Matos, aposentado da UFPE em 2003.
Professor Emérito de Linguística.
Pioneiro na área de Linguística da Paz.
Autor de Pedagogia da Positividade. Editora da UFPE,1996.
Co-fundador, Comissão de Direitos Humanos Dom Helder Camara,CAC,UFPE


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