Artigo de Jarbas Souza prof. aposentado/UFPE
Um dia desses assisti com muita tristeza, um homem,
certamente mendigo, retirar de um saco de lixo, colocado na calçada, restos de
alimentos orgânicos, servindo-se dos mesmos. Um quadro sem dúvida dos mais
dantescos que jamais poderíamos assistir neste século.
Temos assistido muitos horrores, ouvido muitas barbaridades, muitas
histórias fantásticas registradas pela mídia ou por outras formas de divulgação,
mas, nunca meus olhos assistiram a um ser humano alimentando-se de restos
encontrados no lixo urbano como fazem os animais sem donos soltos pelas ruas do
Recife.
Naquele momento fiquei tão estarrecido diante daquele quadro,
para mim tão surrealista, só visto nas telas de pintores ou senas
cinematográficas, que mal pude acreditar no que estava a olhar. A perplexidade
me acompanhou por longo tempo caminhando comigo em minha memória, aquele quadro
urbano que a pouco via pela janela do ônibus em que viajara.
Aos poucos minha perplexidade fora se transformando em
revolta ocupando o lugar da tristeza, que poderia não ter sido nenhuma coisa
nem outra, mas, o encantamento de um pedaço da paisagem urbana de um Recife que
já fora a terceira capital do Brasil.
Há de
lamentarmos, pois, estamos aguardando uma eleição para prefeito e juntamente
com os futuros legisladores do município além de duas copas: das Confederações
e do mundo.
A que ponto chegou o SER, Homem ou
animal! Onde estaria
a dignidade humana? Qual o respeito que os gestores e políticos têm pela pessoa
humana! Será que por ser pobre, preto, sem família, quem sabe doido, não
mereceria respeito pela condição humana!
Se por acaso
ali estivesse um irracional, e alguém lhe atirasse uma pedra, ou lhe fizesse quaisquer
maus tratos, certamente apareceria alguém e o denunciaria ás autoridades que de
pronto o enquadraria na lei de defesa dos animais. Mais é que o poder público
só enxerga o que pode lhe dar ibope ou dividendos eleitorais.
Não, mas ali
não estava nenhum animal para servir de mote para aparições de algum sofista.
Aquele homem
também não estava roubando nada que dessa oportunidade, pudessem os fariseus que
se dizem popular, junto com a mídia, armassem o circo da enganação.
Não resta dúvida
da inexistência de uma consciência de que todo ser humano tem o direito à
cidadania com o devido respeito e dignidade, não importando sua condição
social, religiosa seja ele um lascado de vida, doente mental, negro, branco,
amarelo, analfabeto ou doutor. Todos são imagem e semelhança de Deus.
Creio que a
sociedade não merece esse tratamento, principalmente dos políticos que se
apresentam com propostas inovadoras de transformação de fazer inveja, mas, são promessas
nada mais que promessas são palavras que o vento leva, pois, todos somem após
eleitos, e só voltam a aparecer nas próximas eleições, e novamente armam o
circo.
Assim, tem sido
ao longo de nossa historicidade brasileira, forjada de mentiras, corrupções, e
de falsos profetas da política, que se aproveitam da ignorância do povo com
promessas cujos compromissos nunca são cumpridos.
Os homens em
sua grande maioria, não aprenderam muito ao longo de toda historia da
humanidade. Grandes lições foram passadas, muitas de pai para filho,
enaltecendo a importância da cidadania, que chama a atenção para um dos princípios
fundamentais da vida - dignidade humana.
Quicas, um
dia possamos arruar pela paisagem urbana sem ter que ser assaltados por bandidos ou violentados por quadros que
ferem a cidadania.