segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Orçamento da Seguridade Social em 2010

Este texto foi extraído da publicação Análise da Seguridade Social 2010 da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip).

Em 2010, as receitas da Seguridade Social totalizaram R$ 458,6 bilhões, um valor R$ 65,8 bilhões superior ao de 2009. Esse crescimento marca a saída da crise que atingiu o mundo a partir de setembro de 2008. O aumento não deriva de novos tributos, nem do aumento de alíquotas; simplesmente responde à retomada do processo econômico, num ano em que o PIB cresceu 7,5% em termos reais, maior expansão em 25 anos.
As receitas de contribuições sociais, com R$ 441,3 bilhões, acumulam a quase totalidade das receitas do Orçamento da Seguridade Social - OSS.
Refletindo o bom momento do mercado de trabalho, que amplia va­gas, diminui a informalidade e amplia o valor real das remunerações pagas, a rubrica referente às contribuições previdenciárias (receitas próprias líquidas) e somou R$ 212,0 bilhões e, além de representar a maior receita do OSS, se constituiu na contribuição social que mais cresceu em termos de arrecadação.
O fortalecimento do mercado interno, a retomada da indústria e o cres­cimento dos serviços determinaram um bom crescimento das contribuições que incidem sobre o faturamento das empresas. A Contribuição para o Finan­ciamento da Seguridade – Cofins – arrecadou R$ 140,0 bilhões, apresentando também um bom crescimento (19,0%) frente a 2009. A Contribuição para o PIS foi a que mais cresceu, porque ao bom momento da economia se soma­ram receitas extraordinárias relativas à ação fiscal. A arrecadação de R$ 40,4 bilhões superou a de 2009 em 30,1%.
A lucratividade das empresas em 2010 foi retomada, mas em parte a ar­recadação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL – ainda re­flete ajustes frente aos fracos resultados de 2009. A arrecadação, que chegou a R$ 45,8 bilhões, vem mantendo praticamente os mesmos níveis desde 2008, diminuindo seu valor real e ainda em referência ao PIB.
Nem todas as medidas de desoneração tributária e de dilatação do pra­zo de recolhimento dos tributos adotadas em função da crise foram cancel­adas, e isto ainda se reflete negativamente na arrecadação1.
As demais receitas do Orçamento da Seguridade Social compostas por receitas próprias dos órgãos e entidades da Seguridade somaram R$ 15,2 bilhões, um valor praticamente estável frente a 2009 (2,0%). Finalizam esse rol de receitas, os repasses do Orçamento Fiscal correspondentes aos pagamen­tos realizados à conta dos Encargos Previdenciários da União, um conjunto de benefícios operacionalizados pelo INSS, mas que têm natureza própria, como os relativos à anistia e os indenizatórios.
Em 2010, as despesas da Seguridade somaram R$ 400,5 bilhões. Es­se montante foi superior ao de 2009 em R$ 40,6 bilhões, 15,8%. O fator que mais contribuiu para esse aumento foi o novo valor do salário mínimo, que, em 2010, recebeu todo o impacto do aumento real do PIB de 2008. O reajuste, somando-se 5,8% do PIB de 2008 e a reposição inflacionária de 4,1% (INPC de 2009), levou o salário mínimo de R$ 445 para R$ 510 (9,7%).
Em contrapartida, algumas despesas da Seguridade cresceram em pa­tamares muito inferiores. Foi o caso do seguro-desemprego e das despesas da Saúde. Quanto ao primeiro, a pequena expansão deve-se ao grande cres­cimento ocorrido em 2009, em razão da crise. Em 2010, houve uma diminu­ição do número de benefícios pagos, e o crescimento das despesas também está associado ao novo valor do salário mínimo. Em relação às despesas da Saúde, embora haja vinculação ao PIB, a referência para 2010 foi a variação nominal do PIB ocorrida em 2009 (de 5,1%), um ano com crescimento real negativo e diminuta expansão dos preços.
A maior despesa da Seguridade foi o pagamento dos benefícios previ­denciários, que somou R$254,9 bilhões. Foram R$ 198,1 bilhões em benefícios pagos aos segurados urbanos e R$ 55,5 bilhões, aos rurais. Outro R$ 1,3 bilhão corresponde à despesa com a compensação previdenciária, um mecanismo de ajuste de contas entre os diversos regimes previdenciários2.
As despesas com Saúde somaram R$ 61,1 bilhões, somente R$ 2,8 bilhões acima do executado em 2009. Os valores estão muito aquém das neces­sidades e essa situação de subfinanciamento reforça a importância de regula­mentação da EC nº 29, que define o que são as ações de saúde, evitando os desvios na aplicação dos recursos e ainda quais são os montantes de gastos mínimos que União, Estados e Municípios deverão apresentar anualmente.
Os benefícios pagos à conta do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT – totalizaram R$ 29,2 bilhões, R$ 2,1 bilhões acima dos valores de 2009. Mesmo num cenário de diminuição substantiva do desemprego, esses benefícios são de grande monta, porque, no mercado de trabalho brasileiro a rotatividade é muito significativa.
Os benefícios assistenciais da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS – pagos a idosos e a pessoas com deficiência somaram, em 2010, R$ 20,4 bilhões. Os benefícios remanescentes da Renda Mensal Vitalícia – RMV – ficaram em R$ 1,8 bilhão, mantendo praticamente o mesmo valor dos anos anteriores. Ambos são diretamente impactados pelo valor do salário míni­mo, mas os benefícios da RMV somente são pagos aos antigos beneficiários.
Também de natureza assistencial são os benefícios do Bolsa-Família, que em 2010, somaram R$ 13,5 bilhões. Além do foco no enfrentamento à pobreza, esses benefícios têm condicionalidades que se demonstraram im­portantes nesse processo.
Esse conjunto de despesas acima descrito e outras, menos volumosas, que totalizaram R$ 19,6 bilhões, completam a conta da Seguridade. Todas elas serão detalhadas nos próximos capítulos.
Com um aumento nas receitas muito superior ao verificado nas despe­sas, a Seguridade Social apresentou, em 2010, um superávit de R$ 58,1 bilhões, valor muito superior ao resultado de 2009. Proporcionalmente ao PIB, esse superávit de 1,58% correspondeu a três quartos de todo o superávit produzido pelo Governo Federal (que foi de 2,16%, R$ 79,0 bilhões).
A Tabela 1 apresenta esses números de receitas e despesas para a Se­guridade Social de 2008 a 2010. Em relação à publicações anteriores, contém novidades. Mas, não há qualquer mudança na metodologia de apuração de receitas e despesas e as definições são as mesmas consolidadas na Análise da Seguridade Social 2009. Os valores aqui apresentados relativos aos exer­cícios anteriores podem ser diferentes, porque houve uma nova apropriação simultânea de todas as informações. Todos os dados desde 2000 foram extraí­dos nos bancos de dados mais recentes entre fevereiro e abril de 2011, com acesso às informações do Siga Brasil, do Senado Federal.

Tabela 1: Receitas e Despesas da Seguridade Social, 2008 a 2010, em valores correntes
Receitas realizadas
Acumulado no exercício (R$ milhões)
Classificação
2008
2009
2010
1. Receita de contribuições sociais
359.840
375.887
441.266
Receita Previdenciária Líquida RGPS (1)
163.355
182.008
211.968
Cofins
120.094
116.759
140.023
CPMF (2)
1.004
0
0
CSLL
42.502
43.592
45.754
PIS / PASEP
30.830
31.030
40.373
Outras contribuições (3)
2.054
2.497
3.148
2. Receitas de entidades da Seguridade
15.191
14.923
15.224
Recursos próprios do MDS
161
219
361
Recursos próprios do MPS
1.686
580
314
Recursos próprios do MS
3.009
3.057
3.087
Recursos próprios do FAT (4)
10.008
10.683
11.017
Taxas de Órgãos e entidades
327
384
444
3. Contrapartida do Orçamento Fiscal p/ EPU
2.048
2.015
2.136
Receita Total (1+2+3)
377.079
392.826
458.626


Nenhum comentário:

Postar um comentário