quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Série Aula de Vida


Nada melhor do que arquitetar em conjunto 

Zenildo Caldas

por Suara Macedo 

Nos edifícios modernos do Recife, na beleza provinciana de Gravatá, na fraternidade de Corrente (PI). Em diversos lugares ver-se traços riscados por Zenildo Caldas. Um arquiteto, um professor, um humanista, um pai, um amigo. E assim segue-se a lista de papéis que não lhe foram atribuídos, mas que ele naturalmente é.

O magistério não é só um ofício, mas também um talento tão nato quanto à arquitetura. Entrou na universidade em 1958 e foi um dos fundadores da Faculdade de Urbanismo, antes um curso da escola de belas artes.  Professor da UFPE a partir de 1973 no departamento de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Artes e Comunicação, o qual também chefiou em 92. Foi professor do I Curso de especialização em Desenvolvimento Urbano realizado na Faculdade de Arquitetura do Recife em 74. 


Mas não é só à UFPE que se resume sua atuação. Zenildo Caldas é um expoente da arquitetura pernambucana.  De 1963 a 66 foi chefe do Serviço de Censura Estática da prefeitura municipal do Recife.
Atuou como suplente do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia da 2ª Região, representando o Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento de Pernambuco. E de 65 a 73 foi diretor do Escritório Técnico de Planejamento Físico da Prefeitura do Recife, quando também foi membro da comissão nomeada pelo governo do Estado para estudar as providências preliminares para o planejamento integrado da área Metropolitana do Recife.  

      Em 1976, seu projeto de Centro Social Urbano (CSU) da Cidade do Cabo ficou em primeiro lugar no ranking nacional. E no Concurso Nacional para o Projeto do Centro de Convenções e Feiras do estado ficou na quarta colocação. Também foi diretor do departamento de desenvolvimento urbano da Secretaria de Planejamento Urbano da prefeitura do Recife de 1984 a 88. Quando desenvolveu a Lei de Uso de Ocupação do Solo do município.
Em alguns pontos da RMR a expressão da sua arte marca presença, por exemplo: num dos prédios do SENAC, na Suassuna; ou no Centro de Treinamento da Mercedes Benz, na Imbiribeira. 

 No Edificio Governador Cid Sampaio, aplicou o conceito de gabinete virtual. Uma ideia inovadora que consiste em disponibilizar um cômodo na parte exterior do apartamento, onde pode ser desenvolvida uma biblioteca, escritório, ou um espaço para receber visitantes, para acompanhar o ritmo de vida atual. “Isso pegou. Todo mundo está fazendo agora” afirma o professor Zenildo.

      Zenildo Caldas também arquitetou o cemitério Parque das Flores, localizado no Sancho. Concepção que sua filha, Renata Caldas, também arquiteta, mais admira, pela plástica, leveza e beleza.  Para ela o que o caracteriza seu pai é a “busca pelo conhecimento e o propósito de acompanhar as mudanças do mundo sem deixar de lado a preocupação com os aspectos ambientais”. E todos esses aspectos são vistos e vividos também por quem trabalha ao seu lado. Com humildade ele sempre destaca que o trabalho foi realizado em equipe.  A adequação ao cotidiano, a sofisticação e o desenvolvimento sustentável, já destacados por Renata Caldas, acompanham cada projeto do professor. 


Ele foi coordenador do convênio entre o mestrado de Desenvolvimento Urbano da Universidade Federal de Pernambuco e a Fundação Projeto Piauí para execução do plano diretor da cidade de Corrente.  Lá ele concretizou mais um dos tantos feitos  que emociona Renata. A partir das comunidades produtivas e juntamente com a população, o planejamento físico da cidade foi desenvolvido baseado nas necessidades locais. Este trabalho que foi objeto de sua dissertação de mestrado, e se apoiou numa metodologia de planejamento participativo, lhe rendeu o título de cidadão de Corrente em 1979. 

      Como um bom apaixonado por Gravatá, Caldas é responsável pela beleza de muitos imóveis do local e também coordenou a Lei de Parcelamento Urbano do município.  No ano 2000, foi coordenador do plano emergencial da restauração da cidade de Palmares.  

Mesmo sendo autor de conceitos inovadores baseados na participação ativa, alguns de seus projetos não foram implementados.  Zenildo tentou o doutorado com um projeto de desenvolvimento urbano intitulado Ecópolis. A partir da ideia de que a cidade deveria se autogovernar, ele pensou o espaço urbano como meio de “refletir e promover uma sociedade mais participativa e democrática. O local em que se exerça a racionalidade na utilização dos recursos naturais e por fim deve ser o local em que os seus cidadãos se sintam felizes”. Assim a cidade foi pensada envolta de um eixo de desenvolvimento.  Infelizmente seu projeto não foi selecionado para o doutoramento. Nem por isso deixou de ter marcas expressivas de ideais transformadores e mostrar que é possível para a ciência andar de mãos dadas com a solidariedade no sentido mais agregador destas palavras.

 

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