por
Michel Zaidan Filho
Quando
da vitória do governo petista, em 2002, e do primeiro reitor identificado com
os anseios da comunidade universitária na UFPE, antevimos uma mudança
substancial nas relações de poder entre a administração, os docentes, os
servidores técnicos-administrativos e os
alunos na nossa instituição. Tínhamos
razão para esperar uma reitoria que representasse legitimamente o pensamento da
comunidade acadêmica, autorizada pelo voto da maioria. Afinal, os dirigentes
universitários até então encarnavam a vontade e os ditames do MEC, do Governo Federal,
além é claro das injunções político-partidárias que sempre influíram na
nomeação do escolhido para o cargo.
Qual
não foi a nossa surpresa em constatar que os “novos reitores” deviam obediência,
não aos seus representados, mas sim ao Governo Federal, numa completa inversão
de valores. Era o caso típico da chamada “servidão voluntária”, de que fala
Rousseau, os novos dirigentes, eleitos democraticamente com os votos da
comunidade universitária, passavam rapidamente a representar na UFPE os
interesses e planos da burocracia ministerial de Lula. Poderíamos indagar das
causas dessa estranha metamorfose: a explicação foi se revelando, ao fim de
cada gestão. O “bom mocismo” dos reitores lhes garantia um cargo em Brasília.
Tem sido assim, invariavelmente, com os ex-reitores da UFPE.
Ocorreu
com os nossos reitores, no governo petista, o que se passou com os movimentos sociais:
foram cooptados, viraram “chapa branca”, passaram a ser meros gerentes da
vontade política do governo federal, perante a comum idade que os elegeu.
Quando o governo Lula propôs o REUNI, como condição para aumentar o
investimento nas IES federais, aceitaram imediatamente, mesmo com o protesto
dos docentes, de que tal oferta comprometia a autonomia didático-científica das
universidades. Mas os novos dirigentes receberam essa modalidade de “neo-taylorismo“
na educação, de braços abertos, reintroduzindo a divisão entre professores
“dadores de aula” e “professores pesquisadores”. A universidade virava um colégio de 3º grau.
Mas grave foi a fragilização da autonomia universitária, permitida pelos
reitores “bons moços” perante os Procuradores Federais que, não só passaram a
fazer tábula rasa dos instrumentos de controle e fiscalização da própria
universidade federal, mas avançaram na investigação dos planos de curso, os projetos de pesquisa, as licenças
sabáticas, as palestras, seminários etc. como se fosse a sua competência
admistrativa, fazer tal coisa. E tudo com a cumplicidade, a servidão silenciosa
e covarde das instituições de ensino e pesquisa universitários. Se estivéssemos
num Estado de exceção, mesmo assim se levantariam vozes corajosas contra tão
abuso. Mas num Estado de Direito democrático, o que dizer da servidão das universidades
diante do Poder?
Agora, vem o MEC empurrar de “goela abaixo”
na comunidade universitária um projeto de lei que, simplesmente, retira das
universidades o que resta de autonomia, no que diz respeito aos critérios que
regem a ascensão funcional da categoria, sob a alegação de que vai dar (?) um
aumento de até 45% aos professores! Acho que o governo petista nos trata como
os telespectadores da Globo, idiotas, que “emprenham pelos ouvidos” tudo que
ouve ou ver. Paciência. É necessária dar um basta nessas ofensas sucessivas à
dignidade da carreira universitária, para que os professores e servidores não
acabem passando por meros clientes e serviçais, não do público ou da Nação, mas
dos governos de turno – seja de que lado ou cor for.
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