quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Crônica Retalhos do Cotidiano


Esta Crônica é dedicada ao amigo

Professor Jarbas Souza.

SER PROFESOR

Marcilio Reinaux

Vocês, professoras como eu fui ao meu tempo, mas ainda o sou, um apaixonado pelo magistério.  Ser professor é um privilégio. Mais que isso. É uma dádiva especial de Deus, além de tantas que Ele nos confiou, mais esta de ser professor. É especial, porque não são muitos. Ao contrário. Poucos são os que mourejam com a responsabilidade de ensinar, como se fora um sacerdócio. Somente umas poucas pessoas têm  o desprendimento, a coragem e a dedicação tão necessárias que se juntam à capacidade, a inteligência, a paciência e tantos outros atributos mais, que o professor deve legitimado em seu portfólio. Geralmente nunca ficam ricos com a profissão. Nunca conheci um professor rico com o produto da sua faina profissional de ensinar. Mas mesmo assim, o professor é aquele autêntico mestre, aquele que foi moldado com a sua personalidade de mestre, à profissão, se dedica com amor e carinho.

Há no modo de ser e do fazer, o mister de professor, formatado por sentimentos interiores, mesclados no cadinho da vida. São características muito fortes – aquelas do professor - que parecem ajustar o compensatório, daquilo que se vê em outras profissões. Ao professor não se lhe anuvia o fato de ser mal remunerado e nem sempre ser reconhecido em seu labor. É uma questão de opção, de escolha. Algo de "fórum" íntimo consubstanciado na satisfação desejada e vivida pelo dom de saber e o talento de ensinar o que se sabe. 

Cora Coralina, a grande poeta (ou à moda antiga, poetisa), dizia em um dos seus poemas: "Feliz é quem sabe ensinar e transmite o que aprendeu". Observa-se que ela não cita a possível "felicidade" de quem aprende. Mas destaca como alvissareira certeza, a sorte de quem ensina: o professor.

       De algumas coisas (boas) que se diz do professor, vale lembrar aquela expressão do Imperador  D. Pedro II (1825-1891). Citado na obra de Humberto de Campos (" O Brasil Anedótico") o Imperador afirmava: "Se  eu não fosse Imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre do a de dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens do futuro".

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  Adorar os alunos, nem tanto. Mas tantos que passaram pelos meus olhares, debaixo dos meus ensinamentos, deixam-me com saudades, dos primeiros tempos de professor da Escola Técnica Federal. Das bancas de aluno, para a Mesa do Professor, foi um encantamento. Ao longo da vida do magistério (30,40, 50 anos, dos intenta já vividos) um contingente de alguns milhares de jovens passaram por mim. Fisionomias diante dos meus olhos, que aos poucos iam desfilando a cada ano e sendo apagadas pela esponja do tempo, mescladas com o pó do giz. Mas ainda hoje, por vezes me surpreende pessoas que me encontram e me saúdam com aquela expressão alegre: "Professor. Marcilio!"  E logo após o meu espanto, sem reconhecer quem, vem a frase: "Fui seu aluno em... ( tal lugar e cita a escola, ou a Universidade)..."Pois é, acho que sempre fui professor. Ser advogado, jornalista, cerimonialista, heraldista, e tantos "istas" e mais Relações Publicas, pesquisador, escritor, historiador, nada soa melhor do que PROFESSOR. Afinal é como me intitulo e assim que registro junto à frente da minha assinatura: o Prof. Vocês, filhos professores, vocês amigos e colegas professores fazem muito bem em "adorar" seus alunos. Está no metier de cada um. Esta é a contingência do seu mundo, com aquilo que você abraçou. Algo como um fanal. 
Por isso, nós professores, temos que altissonante, dizer que aqueles contingentes que formam uma “turma”, uma “classe” são a essência do contexto da responsabilidade no cumprimento do dever da faina, complementados com o sentimento de satisfação, alegria inusitada. Alunos fazem parte do nosso mundo interior. E se assim vivenciamos, com certeza aquele toque de felicidade da qual nos fala Cora Coralina, estará bem presente na nossa vida.

E enfim eis a sala de aula. Um "templo" de cultura e do saber. Ele é seu. Todo seu caro professor. De um lado  na plataforma você vendo aquelas fisionomias conhecidas, sempre com olhares esperançosos fitos nos seus gestos, na sua fala na sua forma, na sua postura, conferindo a sua dignidade e jeito peculiar, muito pessoal, de ensinar. Seu. Só seu... E eles – os alunos – sempre tão ansiosos.

Alguns até revelando desejo incontido de querer aprender mais e mais. E  o tempo se esboroa, o relógio corre e a aula se esvai. E você fica a contemplá-los... É um momento quase sublime, você professor, deixando que eles vejam um traço de sua alma.  E nessa simbiose de confiança, se apropriem de um pouco de você mesmo. O professor, assim se dá, aos poucos aos seus alunos. E o que mais... ?  

Então, quando todos no final aula se despedem e saem, você recolhe seus apontamos, livros, junta suas "tralhas". E com certeza quieto por instantes, ouve os últimos passos do ultimo aluno que se vai. Pára e pensa. E sente que tudo isso lhe faz lembrar um gesto gratulatório à Deus. E por certo você pode sussurrar:

  "Obrigado meu Deus, por mais um dia de trabalho.          

(Marcilio Reinaux). Out.2014

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