Artigo do prof. Jarbas Souza
Hoje, como de costume saí para arruar. Depois de
longa caminhada, nas ruas do Recife, um pedinte tira-me a concentração da
paisagem bucólica, estira a mão e me pede uma esmola.
Sem
que ao menos pudesse responder-lhe, veio-me a mente um grande desespero
misturado com tristeza, e me perguntei como se estivesse a falar comigo mesmo. Temos
ainda escravos no Brasil? Porque haveria em uma terra tão grande, tão rica em
recursos naturais, a terra prometida que Moisés tanto procurou no Saara e nunca
encontrou, permitiria a um ser humano viver em situações degradantes.
Como se pode permitir alguém viver sem teto, sem
alimento, sem dignidade e sem perspectiva de vida a mendigar sem esperança de
dias menos injustos e mais humanos?
Senti naquele olhar uma profunda tristeza, cuja dor
contida se expressava no rosto de
sofrimento e angústia de quem fazia um bom tempo que não comia.
Em meio aquela reflexão de um diálogo comigo e com
os homens aparentemente de boa vontade, um vendaval de informações passou em
minha mente como um filme. Lembrei-me que era 7 de setembro, pois ouvira no cintilar sonoro dos ventos a agitação das
comemorações.
Em frações de segundos, o filme da história se repetia,
e ali estávamos a olhar um para o outro.
Ele a espera que lhe desse algo para continuar sua
mendicância e eu compreendendo, mas sem entender, aquela cena dantesca.
Os sons levaram-me ao regate histórico da
independência das amarras de Portugal, da libertação da escravatura, mas, não
havíamos nos libertado do julgo dos homens com sede de poder e bens materiais, cada
vez mais distantes de si e das virtudes que levam os homens em sua plenitude
humana de beleza enquanto homem.
Seriam tão culpados daquele quadro surrealista, quantos
tantos ao achar-me impotente na solução de um problema primário e básico de
subsistência humana.
Por que a pátria Brasil havia lhe negado uma
condição de vida digna? Porque os gerentes vivem em berços esplêndidos,
enquanto outros deitados a mercês das intempéries sem esperanças e sem
lenitivo?
Talvez aquela condição de subvida, servisse para
alimentar a retórica dos que tanto prometem, para negar depois quando
precisarmos.
Seria inocência, maquiavelismo ou desconhecimento dos
fatos cujas verdades intrigam os homens de boa fé?
Assim como eu, milhões de cidadãos diariamente
questionam a hipocrisia dos gestores, sem, contudo perderem a esperança de um
dia ver concretizado o paraíso terrestre de Max.
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