terça-feira, 9 de outubro de 2012

Independência


Artigo do prof. Jarbas Souza


 Hoje, como de costume saí para arruar. Depois de longa caminhada, nas ruas do Recife, um pedinte tira-me a concentração da paisagem bucólica, estira a mão e me pede uma esmola.
Sem que ao menos pudesse responder-lhe, veio-me a mente um grande desespero misturado com tristeza, e me perguntei como se estivesse a falar comigo mesmo. Temos ainda escravos no Brasil? Porque haveria em uma terra tão grande, tão rica em recursos naturais, a terra prometida que Moisés tanto procurou no Saara e nunca encontrou, permitiria a um ser humano viver em situações degradantes.
Como se pode permitir alguém viver sem teto, sem alimento, sem dignidade e sem perspectiva de vida a mendigar sem esperança de dias menos injustos e mais humanos?
Senti naquele olhar uma profunda tristeza, cuja dor contida se expressava no  rosto de sofrimento e angústia de quem fazia um bom tempo que não comia.
Em meio aquela reflexão de um diálogo comigo e com os homens aparentemente de boa vontade, um vendaval de informações passou em minha mente como um filme. Lembrei-me que era 7 de setembro, pois ouvira  no cintilar sonoro dos ventos a agitação das comemorações.
Em frações de segundos, o filme da história se repetia, e ali estávamos a olhar um para o outro.
Ele a espera que lhe desse algo para continuar sua mendicância e eu compreendendo, mas sem entender, aquela cena dantesca.
Os sons levaram-me ao regate histórico da independência das amarras de Portugal, da libertação da escravatura, mas, não havíamos nos libertado do julgo dos homens com sede de poder e bens materiais, cada vez mais distantes de si e das virtudes que levam os homens em sua plenitude humana de beleza enquanto homem.
Seriam tão culpados daquele quadro surrealista, quantos tantos ao achar-me impotente na solução de um problema primário e básico de subsistência humana.
Por que a pátria Brasil havia lhe negado uma condição de vida digna? Porque os gerentes vivem em berços esplêndidos, enquanto outros deitados a mercês das intempéries sem esperanças e sem lenitivo?
Talvez aquela condição de subvida, servisse para alimentar a retórica dos que tanto prometem, para negar depois quando precisarmos.
Seria inocência, maquiavelismo ou desconhecimento dos fatos cujas verdades intrigam os homens de boa fé?
Assim como eu, milhões de cidadãos diariamente questionam a hipocrisia dos gestores, sem, contudo perderem a esperança de um dia ver concretizado o paraíso terrestre de Max.


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