segunda-feira, 4 de junho de 2012

Greve nas universidades


Alguém engana alguém: ou são os professores em

 greve ou é o Governo


Desde o dia 17, universidades e institutos federais estão em greve. Mas por que, se propagandas governamentais só apresentam maravilhas da educação? Simples. Alguém engana alguém: ou são os professores em greve ou é o governo federal. 


O leitor consciente – e que nada deve ao partido da ordem – sabe a resposta correta. Mesmo assim, tratarei de algumas das “verdades do governo”; aliás, no Brasil, parece que governar é sinônimo de ludibriar. E diante disso, afirmo: “nunca antes na história deste país” houve um partido mais enganador do que o que ora nos governa. Os anteriores eram fichinhas, claro que não tão limpinhas assim... 



Há alguns dias, o governo – agora chefiado por uma senhora, cheia de “carinhos” e “bolsas” a distribuir a seus filhos desvalidos – tem pago fortuna à mídia, veiculando mais uma enganosa propaganda para enaltecer o Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, conhecido como Reuni. 



A propaganda do momento – de 60 segundos – pode ser acessada no Portal do MEC. Trata-se daquela em que a atriz Hermila Guedes – que, dentre outros trabalhos, atuou em Assalto ao Banco Central e depois pousou para fotos sensuais na Revista Status – inicia descendo uma escada e termina subindo outra, de um dos prédios da Federal de SP (Unifesp), que também – detalhe – está em greve. 



Nesse intervalo, são apresentadas belas imagens de laboratórios em funcionamento, aulas de campo, de Libras, além de “máquinas trabalhando” em obras. Entremeando isso tudo, ouve-se, inicialmente, a voz (em off) do reitor daquela instituição; depois, ele surge em carne e osso para endossar o Reuni. 



Reuni. Não se esqueça dessa sigla, leitor. Ela se refere ao programa que serviu como moeda de troca: ou as universidades – perdendo autonomia – aderiam-no ou não recebiam recursos federais, comprometendo o já precário funcionamento das instituições. 



Resultado: todas – “democrática e espontaneamente” – tiveram de fazer adesão. O governo fez com as universidades o mesmo que faz com seus capachos, quando quer “tratorar” alguma matéria ou encobrir suas sujeiras no Congresso: abre os cofres e esfrega o dinheirinho na fuça de quem estiver à venda. 



Dessa “espontânea adesão”, os campi das federais tornaram-se canteiros de obras. Obras, em geral, mal concebidas e mal feitas que, antes, servem para ajudar a aquecer o setor da construção. Espero ainda vê-los servindo as universidades, pois, hoje, há vários prédios novos ociosos. Não há humanos para preencher tanto vazio. Em muitos deles, o eco de salas imensas – à lá cursinhos –, sem mobília, é o que há. 



Os concursos para docentes e técnicos são ínfimos perante o número de novos ingressantes. A precarização nos ronda. As salas de aulas estão superlotadas, pelo menos no início dos cursos, pois logo ocorrem as evasões em vários deles. Os professores estão adoecendo física e emocionalmente. O Reuni – junto com o Enem – é o ápice de uma inteligente enganação, pois ele é meramente eleitoreiro. 



E os salários dos professores? Do mesmo tamanho mensurado há anos pelo professor Raimundo, personagem de Chico Anísio. Dentre as profissões que exigem qualificação acadêmica, é o pior. Nem farei paralelo com os ganhos de políticos; alguns, sem instrução formal básica. Seus salários? Preciso dizer? É muita “palhaçada” com os professores. 



Contrariando as propagandas, afirmo: a educação está a descer a ladeira. As quantificações expostas pelo governo não correspondem à qualificação desejada e necessária; e isso abrange das séries iniciais às pós-graduações. 



ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ é doutor em Jornalismo pela USP e professor de Literatura na UFMT.

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